Entrevista com a Banda Prume, revelação musical do ano

“E a gente é pequeno pro tamanho do mundo/ Por isso que passou, é melhor deixar pra trás/ Volto minha atenção para o que aqui está”. Em tempos de correria, um afago para os ouvidos e um pedido à atenção.

Os versos são de “The life I seek”, single do disco “Learning by watching” da banda pernambucana Prume, que estreia um dos maiores shows de sua turnê dentro do Jack Daniel’s Festival, no dia 17 de dezembro, na Coudelaria Souza Leão, no Recife.

Na calmaria da orla de Boa Viagem, na capital pernambucana, os músicos da Prume deram uma entrevista exclusiva e reveladora ao Confira Mais. O que parecia “pequeno para o tamanho do mundo”, agora soa uma constante na trajetória do vocalista Igor Bruno (30), do tecladista Cadu Bussad (28) e do guitarrista Felipe Lobo (25), que juntos emplacaram o primeiro hit nas paradas musicais do serviço de streaming Spotify.

Prume não nega as referências musicais de Pernambuco, mas nasceu para alçar voo. Com letras em inglês e português, a ideia de internacionalização surgiu desde a hora de escolher o nome do grupo. “A gente tinha em mente ter um nome que soasse bem não apenas sendo falado em português como também sendo falado por alguém de fora”, diz Cadu.

Sobre o peso da musicalidade nordestina, os músicos não a vinculam necessariamente à Prume. “Mas, por exemplo, tem uma música da gente que contém alfaia, um instrumento característico do Movimento Manguebeat. Então tem um pouco dessa pegada pernambucana, não são só influências internacionais”, destaca Lobo.

De Lenine a The Weeknd, a bagagem da Prume mistura clássicos a tendências para fazer músicas marcantes. Saiba outros segredos desse grupo que é uma das revelações de 2016.

Como os três músicos se conheceram?

Igor: Eu conheci Cadu [Bussad] há pelo menos uns 8 anos, no colégio. A gente tinha muitos amigos em comum naquela época, mas a gente ainda não era amigo. Felipe [Lobo] entrou nessa história através de amigos em comum, coisa de amigo de noitada. A gente saía na noite e começamos a tomar “uma” juntos.

Prume já nasce com espírito internacional?

Igor: Sim, principalmente por causa das letras em inglês. Essa história de a gente mirar para fora do país foi algo orgânico, porque a gente começou como banda cover, a gente tocava músicas em inglês e começou a compor em inglês. Depois a gente pensou: “porra, é melhor mirar para fora mesmo, apesar de estar dando certo aqui também, mas vamos mirar para fora”.

Como veem a Prume na música pernambucana?

Igor: Eu acho que a Prume é uma banda que não se encaixa muito bem dentro do cenário pernambucano de música, tanto é que a maioria das pessoas que escuta o nosso som fala: “Eu nem sabia que a banda era de Pernambuco, não sabia nem que era do Brasil”. Então eu acho que essa pergunta é difícil de responder: saber como a sonoridade da gente se encaixa dentro dessa sonoridade pernambucana.

Grupo apresenta grande show da turnê em festival de música no Recife. Foto: Vinícius Brito/Confira Mais

A Prume nega essa característica cultural pernambucana?

Igor: A gente não nega essa característica, mas não quer dizer que a gente bebe dela diretamente, não por uma questão de rixa, e simplesmente por outras influências. Foi um resultado de outro trabalho que a gente vinha fazendo e a gente migrou para esse trabalho autoral. Acho que se alguém do Sul e Sudeste escutar a Prume, ninguém vai dizer: “essa banda de Pernambuco é massa”. Vai dizer: “essa banda é massa”.

Carioca, como o produtor Diogo Strausz influencia a banda?

Igor: Eu acho que Diogo deu uma visão muito nova para a gente a respeito do mercado, apesar de a gente ter contratado ele para lapidar as músicas da gente. A gente tinha as canções e queria que ficassem o mais pop possível. Antes, as músicas eram mais alternativas e Diogo as tornou mais fáceis de se digerir.

Como foi o processo criativo do CD “Learning by watching”?

Cadu: O processo criativo da gente geralmente começa com Igor fazendo o beat eletrônico. E aí a gente resgata algum som de guitarra e tenta juntar com o que Igor fez, a partir daí a gente vai construindo a música. Igor: A grande maioria das músicas do CD foram assim, mas teve o caso da música de trabalho “The life I seek”, que foi criada em cima do ukulele. O rife do ukulele é um loop que fica basicamente a música inteira repetindo.

O single “The life I seek” faz uma  crítica à sociedade?

Cadu: Acho que a música fala muito da busca do indivíduo pelo sonho, por concretizar o que ele idealiza para a sua vida e acho que muita gente deixa escapar isso hoje, por uma série de obrigações, seja para fazer dinheiro ou para ter uma vida estável.

Prume não nega influências pernambucanas, mas mira a música internacional. Foto: Vinícius Brito/Confira Mais

O que toca na playlist de vocês?

Lobo: Hoje em dia, eu coloco nos novos lançamentos da semana [em sites via streaming] e escuto o que está ali. Cadu: Eu estou escutando muito The Weeknd, estou escutando muito reggae também, como Sticky Fingers. Igor: No geral, eu não tenho uma playlist, mas escuto discos. Foi assim com Radiohead, foi assim com o disco solo de Thom Yorke, e foi assim com o disco novo de Bon Iver.

E quais as novidades da Prume para 2017?

Igor: A gente tem duas músicas que foram gravadas juntamente com o primeiro disco e que não foram lançadas, inclusive uma delas se chama “Learning by watching” e tem outras também, ao todo são cinco músicas que a gente não lançou e que pretendemos lançar em um EP. E, no fim do ano de 2017, a gente talvez grave um segundo disco.

Compartilhar